A ideia de que existiriam “tipos de personalidade” estava sendo explorada por filósofos e cientistas na segunda década do século passado. Foi neste período que Carl Jung, um psiquiatra suíço, publicou o livro “Tipos Psicológicos”, delineando as bases do modelo tipológico que se tornou um dos mais utilizados no mundo.

Primeiramente Jung observou que havia pessoas mais voltadas ao mundo externo de pessoas e experiências que voltadas ao mundo que existia fora de si mesmas, que ele chamou de Extravertidos, e que havia pessoas orientadas ao mundo interno de pensamentos, idéias, sentimentos e memórias, que ele chamou de Introvertidos. Com o passar do tempo ele notou diferenças relacionadas à forma com que as pessoas interagiam com cada um destes mundos. Ele deu o nome de funções a estas diferenças, porém nós as chamaremos de Processos Cognitivos.

Funções: Os Processos Cognitivos

Utilizando-se de metáforas para os nomes, Jung descreveu duas qualidades de processos cognitivos: os de Percepção e os de Julgamento. Apesar de serem nomes conhecidos, estes conceitos foram os que deram origem à dimensão J/P de Myers-Briggs, como você poderá compreender a seguir.

“Sensação” (S) e “Intuição” (N) são modalidades diferentes de Percepção, (de “perceber” o mundo; análogas a um sensor). Agora, “Pensamento” (T) e “Sentimento” (F) são duas modalidades de Julgamento (de formas de concluir, de opinar; análogas a algoritmos de computadores). Jung afirmava que cada “ato” mental consistia em pelo menos um destes quatro Processos Cognitivos. Foi então que ele descreveu oito tipos de personalidade que eram caracterizados pelo uso de cada um destes 4 processos cognitivos voltados tanto ao a) mundo extravertido quanto ao b) introvertido, designando-os de Sensação Extravertida, Sensação Introvertida, Intuição Extravertida, Intuição Introvertida, Pensamento Extravertido, Pensamento Introvertido, Sentimento Extravertido e Sentimento Introvertido. Ele também sugeriu que estes processos operam não só de forma dominante, como também numa diversidade de combinações.

Veja na tabela abaixo um resumo dos Processos Cognitivos que Jung definiu como os mais relevantes na determinação da disposição psicológica das pessoas, juntamente com alguns exemplos de situações em que estas funções são utilizadas no dia-a-dia:

Descrição dos 8 Processos Cognitivos de Jung

Descrição dos 8 Processos Cognitivos de Jung

 

Agora que você já sabe o que cada um dos 8 Processos Cognitivos (funções) de Jung envolve, está na hora de ordená-los hierarquicamente para que possamos formar cada um dos 16 Tipos de Personalidade. Isto mesmo: cada Tipo é DEFINIDO por uma ordem única.

Definição dos 16 Tipos de Personalidade através da ótica dos Processos Cognitivos

Definição dos 16 Tipos de Personalidade através da ótica dos Processos Cognitivos

 

Note, porém, que a ordem obedece a algumas regras:

1) A função Dominante e a Inferior são sempre ou ambas de Percepção, ou ambas de Julgamento. O mesmo é válido para as funções Auxiliares e Terciárias. Ex: O ESTJ tem em sua hierarquia uma função de Julgamento como Dominante, assim como a Inferior. Ambas as funções Auxiliar e Terciária são de Percepção.

2) O mundo-foco da função Dominante (extravertido ou introvertido) é sempre oposto ao da Auxiliar, que é oposto ao da Terciária, que por sua vez é oposto ao da Inferior. Ex.: A função dominante do ESTJ é extravertida, a Auxiliar introvertida, a Terciária extravertida, e a Inferior introvertida.

3) Os Extravertidos (“E”) sempre têm sua função Dominante como sendo extravertida, assim como os Introvertidos sempre têm sua função Dominante como sendo introvertida. Ex.: O ESFJ tem como função Dominante o “Fe” (Sentimento extrovertido), e o ISTP tem como função Dominante o Ti (Pensamento introvertido).

4) O que faz com que determinado Tipo de Personalidade seja “J” ou “P” é na verdade o fato da função extravertida mais desenvolvida ser de Percepção ou de Julgamento. Note que todos os ExxJ possuem sua terceira letra da sigla (T ou F, que são funções de Julgamento) como função Dominante extravertida, e que todos os ExxP possuem sua segunda letra da sigla (S ou N, funções de Percepção) como função Dominante extravertida.

Note agora que entre os Introvertidos a função extravertida mais dominante será sempre a Auxiliar, por conta da regra 2). Podemos constatar, portanto, que todos os IxxJ têm sua terceira letra da sigla (T ou F, funções de Julgamento) como função Auxiliar extravertida, assim como todos os IxxP têm sua segunda letra da sigla (S ou N, funções de Percepção) como função Auxiliar extravertida.

O benefício que este modelo traz está em sua utilização suplementar às leituras feitas através do Modelo das Preferências Individuais, do Modelo dos 4 Temperamentos de Keirsey, e do Modelo dos Estilos de Interação, abordados nos tópicos teóricos anteriores.